Por Simone Patrocínio
Um dos maiores problemas enfrentados pelo homem moderno é provocado na infância com a privação das brincadeiras tradicionais de rua.
Soltar pipa, subir em árvores, pular corda e amarelinha, jogar bola, brincar de esconde-esconde. Essas brincadeiras já não mais fazem parte do cotidiano da nova geração. O desenvolvimento tecnológico e o aumento da violência nas ruas têm afastado as crianças do convívio social. “A evolução tecnológica não é a única responsável pela mudança nos hábitos de lazer das crianças. A violência nas ruas e o aumento no fluxo de carros dentro dos bairros também são fatores que interferem na vida das novas gerações”, explica Salvador Inácio, professor do curso de Educação Física.
“Antigamente a casa, o quintal e a rua eram os principais espaços de lazer das crianças. Mas o medo da violência das ruas fez os pais protegerem os filhos dentro das casas em frente à televisão ou jogando vídeo game”, diz Salvador.
Os espaços, como a escola, estão cada vez mais reduzidos, impossibilitando o contato social das crianças. O grande edifício residencial também é outra barreira para uma vida mais saudável. “A possibilidade de lidar com outras pessoas é muito importante na vida do ser humano. É a partir desses relacionamentos que as crianças desenvolverão a capacidade de se comunicar e se expressar com o meio social”, explica Salvador.
Quando a criança está brincando, ela consegue trabalhar os quatro elementos essenciais a uma boa formação. A coordenação motora, a cognitiva, a afetiva e o social. “A importância das brincadeiras tradicionais é porque elas não são previsíveis como os jogos eletrônicos. Os novos brinquedos deixam as crianças com raciocínios mecânicos”, explica Salvador. “O brincar é uma atividade que faz parte da essência da criança. É uma linguagem infantil que deve ser respeitada e incentivada”.
As crianças que não têm contato com o meio social e que brincam com freqüência com jogos eletrônicos têm menos estímulos. Ao contrário das que sobem em árvores, jogam bolinhas de gude e soltam pipa, essa nova geração terá dificuldade para resolver problemas reais, que exijam trabalhar com a emoção e com a razão. “O grande problema dos jogos eletrônicos é justamente o fato de que o raciocínio das crianças torna-se mecânico, e futuramente serão pessoas com dificuldade em se expressar”, comenta Salvador.
Para a psicóloga Adriana Pessoa, as brincadeiras de rua, entre crianças da mesma idade, são importantes pela interação e convívio social. Essas relações de socialização são fundamentais para as crianças, pois é nessa fase que iniciam o processo desenvolvimento da habilidade de se expressar. “O uso excessivo de brinquedos eletrônicos tende a um isolamento e à ilusão de que a virtualidade torna tudo possível”, explica Adriana.
Segundo Adriana, a tecnologia deve fazer parte da vida das crianças de uma forma natural. “Não podemos definir uma idade para a inicialização ao mundo eletrônico. O acesso a tecnologia ocorre de forma natural. A escola tem de iniciar as atividades de informática no momento em que as crianças têm condição de assimilar. Da mesma forma deve ocorrer em casa”, explica.
“O uso do computador é benéfico e saudável, como as outras atividades que a criança participa. Mas os pais devem colocar horários e limites para os filhos, além do cuidado com o conteúdo de acesso na internet”, comenta Adriana. “Os limites devem ser colocados desde cedo”, diz.
A convivência com os pais nessa fase é fundamental para a formação da criança como afirma o professor, Salvador Inácio. “A partir dos sete anos de idade as crianças começam a registrar todos os relacionamentos que os afetam. A presença dos pais é fundamental nas brincadeiras para que essas experiências possam ser registradas pela criança”, afirma Salvador.
Para amenizar a influência dos brinquedos eletrônicos sobre as crianças os pais devem seguir algumas regrinhas: controlar o tempo da TV, do computador, do vídeo game, etc. Devem procurar escolas com áreas de lazer apropriadas para o exercício de esportes; e com profissional psico-pedagogo. “É importante estar sempre procurando uma maneira de deixar a criança em contato com outras e em contato com a natureza”, comenta Salvador.
Segundo uma pesquisa realizada pelo National Institute on Media and the Family, 92% das crianças norte-americanas, entre 2 e 17 anos de idade, brincam com video games e 20% dos adolescentes podem ser classificados patologicamente dependente dos jogos de video. No ano passado, a indústria de video games superou Hollywood em arrecadação financeira, com uma receita de quase 12 bilhões de dólares. Segundo a pesquisa, o video game se tornou a forma mais popular de entretenimento do planeta e o mercado, apesar de ser um dos maiores, não tem uma fiscalização específica. (Fonte: http://www.linhaaberta.com/arquivo/2003/ed59/capa.html )
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